A história da computação possui muitos personagens que contribuíram para o seu desenvolvimento. Na sua grande maioria os personagens conhecidos dessa história são homens. Podemos citar muitos homens que contribuiram para a computação: Babbage, Boole, Turing, Von Neumann… E aonde ficam as mulheres nessa história toda? Será que não houve nenhuma contribuição feita por uma mulher? Não digo daquelas mulheres que são tidas como “a primeira mulher engenheira de computação do mundo”, ou seja, a primeira mulher a fazer uma atividade que antes era dominada apenas por homens. Digo uma mulher que tenha sido o primeiro indivíduo, seja homem ou mulher, que contribuiu originalmente com alguma coisa para a computação.
A máquina descrita por Babbage foi reconhecida como um primeiro modelo de computador e as notas de Ada como a descrição de um software, ainda que não tenha sido possível construir a máquina naquela época por restrições da tecnologia [2].
Mas as contribuições das mulheres na computação não pararam por ai. Na década 40, foi desenvolvido pelo exército um projeto ultrassecreto, o ENIAC. Depois da segunda guerra, foi divulgada a existência dessa máquina que é tida como o primeiro computador digital eletrônico de grande escala. O ENIAC foi criado pelos cientistas norte-americanos John Eckert e John Mauchly. Porém, uma parte dessa história foi obscura durante muitos anos: quem haveria programado esse máquina para computar trajetórias balísticas? Na década de 80, a pesquisadora Kathy Kleiman decide ir atrás de algumas pistas nesse sentido e descobre que o ENIAC havia sido programada por seis matemáticas mulheres. Seus nomes eram: Betty Jean Jennings, Ruth Lichterman, Kathleen McNulty, Betty Snyder, Marlyn Wescoff e Fran Bilas [3].
Elas foram escolhidas entre um grupo de 100 mulheres que trabalhavam na Universidade da Pensilvânia calculando manualmente as equações diferenciais necessárias para as trajetórias balísticas durante a guerra [3]. O exército chamava a função destas mulheres de “computers” ou computadoras (em uma tradução livre, já que esse termo não existe com a flexão feminina na língua portuguesa).
O ENIAC era programado através da conexão de fios, relês e sequências de chaves para que se determinasse a tarefa a ser executada. Havia milhares de chaves, podendo cada uma delas assumir o valor 1 ou 0 conforme estivessem ligadas ou desligadas. [4] A cada tarefa diferente o processo deveria ser refeito. A resposta dos cálculos era dada por uma sequência de lâmpadas.
Essas mulheres não tinham permissão de ver o ENIAC por ele ser um projeto secreto, mas mesmo assim elas o programaram. E para fazer isso, tiverem que estudar os diagramas esquemáticos da máquina e entender como ela poderia ser programada, isso em uma época que não existiam livros que se ensinasse a programar. Ao fazer isso elas fundaram as bases para os programadores e engenheiros de software do futuro [3].
Mas elas não pararam por ai. Após esse projeto, Jean liderou a equipe que transformou o ENIAC em um dos primeiros computadores eletrônicos com memória de armazenamento do mundo. Já Betty continuou trabalhando na computação ao longo de toda a sua vida profissional, sendo uma pioneira na área ao desenvolver o primeiro conjunto de instruções de máquina, a primeira rotina de ordenação e a primeira aplicação de software [3].
Apesar do papel pioneiro dessas mulheres como primeiras programadoras da computação moderna, elas foram reconhecidas tardiamente pelo que fizeram, sendo que a maioria tinha cerca de 70 anos. Elas receberam prêmios da IEEE Computer Society, do Museu da História da Computação, da associação Women in Technology International e outras organizações [3].
[4] https://pt.wikipedia.org/wiki/ENIAC